Na campanha eleitoral do MPLA, nada parece convencer: o apoio popular recebido não tem sido espontâneo, o afecto do candidato pelos mais pobres e desvalidos é mera encenação, o “ar de estadista” de João Lourenço é pura ilusão de óptica… nada consegue desfazer a impressão de que se trata de um “candidato de plástico”, que não sente nem suscita verdadeira empatia junto do eleitorado do partido.
Por Tchockwe Tchockwe
Sem surpresa, o Povo assiste “anestesiado” ao desenrolar da cena, sabendo, de antemão, que “o jogo” está viciado, que a farsa não tem limites e que a fraude eleitoral há muito que está montada.
Com a sobranceria própria de quem controla “o jogo”, as proto-eleições que se perspectivam para dia 23 próximo são, para o MPLA, não só mais uma oportunidade de reforçar, interna e externamente, o embuste democrático em que temos vivido, mas também de travestir a ordem jurídica nacional com formalismos legais “ad-hoc”, que apenas visam proteger as eminências pardas do regime e seus comensais.
No terreno, de Norte a Sul do País, muitos têm sido os exemplos de subdesenvolvimento das mentalidades dos agentes do MPLA, petrificadas nas piores práticas estalinistas e populistas, alimentadas pela corrupção e impunidade, e desajustadas duma Angola que vai emergindo, aos poucos, da escura noite totalitária.
Senão, vejamos aqui um pequeno exemplo:
A chegada teatral do candidato-vencedor-antecipado, João Lourenço, à sede do Comité Provincial de Malanje do Partido-Estado, no dia 10 do corrente, rivalizou em aparato com alguns episódios bíblicos, onde o ribombar dos tambores e o som estridente das trombetas anunciavam a aparição do Rei Herodes! Sim, Herodes, João “Herodes” Lourenço!
E lá chegaram, velozes e luzidios, meia-dúzia de avantajados jipes de luxo, exibindo pedantes vidros fumados e “pirilampos” intermitentes de várias cores, fazendo lembrar árvores de Natal fora de época. Algures, naquela estratosférica caravana automóvel, despontava o novo Profeta.
O cenário completava-se com os inevitáveis camiões militares de caixa aberta e atrelado, onde se amontoavam “gados humanos” que mal sabiam ao que vinham, mas que, obedientes ao Poder Feudal, apenas faziam o que os “donos da festa” lhes diziam para fazer. Sem inquietações, nem perguntas!
Os sobas, modernizados nas suas vestes de autoridades tradicionais / funcionários do Partido (à força!), emprestavam um inenarrável ar de “cumplicidade-não-espontânea” aos actos oficiais protagonizados pelos Senhores de Angola. Calados e rendidos à esmagadora presença do candidato a Soba-Maior, eram uma caricatura empalidecida do que foram no Passado.
Num cenário de Natal tropical, revisto e aumentado, João Lourenço esforçava-se, sem sucesso, para esboçar um sorriso enquanto oferecia um jipe ao Rei de Malanje, aparelhos de som aos sobas, computadores portáteis a jovens que em casa talvez nem energia eléctrica tenham!
De vez em quando, diante da oferta de mais uns panos, lá se ouvia uma senhora a dizer: Muito obrigado, papá!!!
Ao militante de base do MPLA “apenas” se exige obediência cega e ausência de raciocínio analítico (porque pensar é perigoso, cria maus-hábitos e, para pensar, lá estão os Chefes).
O aparato cuidadosamente preparado por empresas estrangeiras, contratadas a peso de ouro pelo Partido-Estado para “emprestar” grandiosidade e eloquência a um discurso vazio de convicções, carregado de “lugares-comuns”, destituído de verdadeiro afecto pelo Povo, e no qual nem o candidato-vencedor-antecipado acredita, visa dar às empobrecidas populações angolanas não o Pão, mas sim o Circo com que os “maestros” do MPLA pretendem continuar a entreter e enganar aqueles por quem dizem ter lutado na mata.
A prática da compra dos votos populares em troca de “missangas e panos coloridos” é um expediente a que o MPLA deita mão sem nenhum prurido de consciência, talvez para compensar a falta de sentido e o vazio de ideias dos discursos oficiais.
O eternizar do ciclo de pobreza, obscurantismo e ignorância, de vastas camadas populacionais em Angola tem sido, por absurdo que pareça, um dos objectivos inconfessos da “elite dirigente” que sequestrou o Poder em Angola. Mesmo os aprendizes de ditador sabem que um povo instruído e esclarecido é muito perigoso para certos regimes políticos.
Está muito claro para todos que o regime do MPLA nunca pretendeu “perder” o Poder hegemónico que tem, nada importando, em realidade, o sentimento da Nação, ou os imperativos do seu desenvolvimento mais harmonioso. Para o Partido-Estado, os seus próprios desígnios sobrepõem-se sempre aos objectivos nacionais.
E, no que respeita ao rol de promessas feitas pelo agora candidato ao trono… bem, essas foram sendo esquecidas de imediato, até porque nunca houve a menor intenção de as vir a cumprir ! No dia 23 próximo, logo veremos se se abre um novo tempo para Angola, ou se tudo permanece como dantes.
Legenda: João Lourenço doou ao cantor Sebem um televisor, fogão, arca, geleira, gerador, aparelho de som e alimentos…